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O que a medicina tem de fascinante, sedutor e empreendedor?

Muitas pessoas já chegaram até mim com a seguinte pergunta: por que medicina? É uma pergunta clássica, convenhamos, mas cada vez que a mim ela é feita, é despertado um novo sentimento de inquietação misturado com certeza. Na verdade, não lembro ao certo do exato momento em que pensei: quero ser médica! Lembranças vagas de minha infância vêm-me à cabeça, quando meu pai orgulhosamente comentava com algum amigo assim: “Vê lá, pergunte a ela o que ela quer ser quando crescer?”. O homem então olhava para mim e perguntava. Eu, encabulada, mas com um sorriso no rosto, respondia: “Pediatra”. Pois é, é engraçado. Acho que aí eu devia ter uns quatro ou cinco anos de idade. E essa mesma idéia de um dia me tornar pediatra acompanhou-me por toda a minha infância e parte de minha adolescência. Mas quando começou, ou por que começou, não sei. Recordo-me que, no segundo ano do ensino médio, passou-me pela cabeça prestar vestibular para psicologia. Vontade efêmera, pois logo voltei a meu sonho antigo: medicina. Tentei, então, o vestibular por três vezes na Universidade Federal do Ceará, sendo aprovada na terceira para a turma do primeiro semestre. Apesar de já não mais sonhar com a pediatria, não me arrependo e nunca quis desistir, apesar das dificuldades e dos obstáculos. O leitor deve então estar se questionando qual foi o porquê de todo esse meu rodeio para chegar ao tema chave. Sem dúvida, enxergo na profissão que irei exercer um fascínio e uma sedução que me mantêm aqui, firme e forte (ainda que em alguns dias não esteja nem tão firme, nem tão forte). O que me intriga é saber de onde veio essa vontade. Por que eu quis medicina? Será que foram mesmo meus pais, que desde cedo projetaram em mim o desejo deles? Não gosto de pensar assim, ainda que tenha nisso um fundo de verdade. Será que também não tenho uma aptidão inata? Algo em mim que me impulsiona à medicina? Emociona-me tanto satisfazer uma pessoa aflita (mesmo que por enquanto eu não tenha meios ou conhecimentos suficientes para tratá-la) que considero pequena a justificativa de que meus pais me influenciaram. O cuidado que temos em nossas mãos e o poder que nos é dado para tratar aquele que sofre é, em minha opinião, uma das coisas mais preciosas que existe. E quanto ao empreendedorismo? Bem, somos (digo nós, aspirantes a médicos), de certa forma, grandes empreendedores, pois passamos pelo menos 6 anos de nossas vidas investindo nessa formação, sem que a nós seja dada nenhuma garantia de que vai dar certo no final. Que vou ter emprego, certamente sim, mas quem me garante que este emprego me proporcionará um salário condizente com meu esforço ou condições de trabalho dignas? Ou mais ainda: quem me garante que serei feliz? Porque chegar a trabalhar 80h semanais, sem poder comparecer a natais, festas de ano novo, aniversários de familiares, casamentos, e assim ver a sua vida social indo para o limbo é um risco que corremos enquanto médicos. E investir sua juventude em algo que lhe dará em troca esses ônus não é nada fácil. No entanto, trago mais uma vez à tona o motivo maior: o cuidado! Isso me encanta, isso me fascina, e por isso pouco importa o resto. Quero curtir cada alegria que minha profissão me traga com a intensidade de uma criança que ganha um brinquedo novo. Quero passar por cada momento difícil que minha profissão me traga com o bom humor e a serenidade de alguém que é feliz.

Comentários

Anônimo disse…
O interessante é perceber quem tem tesão pelo que faz e os que escolheram um trabalho pelo que ele proporciona. Médico. Nome vistoso, muitos buscam o status e os que isso buscam, acabam por maus profissionais. Aqueles que nos atendem em 30 segundos. Se vira nos trinta! Condições também influem, mas bem atendido é diferente de bem estruturado. Ninguém vai ao SUS sem saber que o sistema é debilitado. Reclamam muito mais da falta de apreço ou porque não tem ninguém que lutem por eles quando nos seus momentos de maior dificuldade.

Seja médica, antes de tudo, seja humana. Entenderão sua rotina se vc entender os outros. O reconhecimento de um bom médico não é o curriculo, mas sim o comentário daquele que foi atendido por ele.

Quanto a sua vida, faça para aqueles a quem vc dedicou seu tempo, um momento agradavel. Os seus vão se orgulhar de vc. Por mais que vc perca alguns momentos imperdiveis (que todos nós passamos por isso), vão ter orgulho pelo que vc faz: ajudar pessoas.

Bj

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