Pular para o conteúdo principal

O que restou da criança que fui?

 Tenho muitas lembranças da minha infância. Minha lembrança mais antiga é de 1990, após o nascimento de meu irmão do meio. Eu devia ter uns 2 anos e meio, e me recordo de minha mãe amamentando-o em uma cadeira de balanço, no canto da sala. Observando aquela cena, minha mãe me ofereceu o peito também e, de pronto, eu soltei um "eca". Mamei no peito de minha mãe até os 4 meses, segundo ela conta. A chupeta, que era minha fiel companheira, larguei no dia em que minha mãe insistiu para que eu trocasse por uma nova, pois a que eu usava estava muito gasta. Preferi ficar sem, a usar uma nova.

Podei, muito cedo, minha intempestividade e espontaneidade. No meu aniversário de 5 anos, eu corri e tomei das mãos dos convidados os MEUS presentes. Afinal, para uma criança de 5 anos, os presentes eram as coisas que mais importavam na sua festa. Isso me custou uma represália de minha mãe, que com veemência falou que isso era "falta de educação". Nunca mais esqueci, e por poucas vezes, após isso, desobedeci aos meus pais.

Cresci, então, como uma mini adulta. Obediente, "calma", educada, observadora. Julgava crianças que corriam, suavam, brincavam, mantendo meu ar de superioridade. Os adultos me elogiavam, por ser um "exemplo". Boletim impecável, boa aluna. Nunca me considerei muito estudiosa, pois para mim era o básico cumprir meus deveres escolares e atingir notas boas.

Assim, minha infância passou. Entre os 18 e 30 anos, busquei recuperar um pouco da espontaneidade que não extravasei na infância e fazer as pazes com a pequena Emilcy - thanks, terapia! Hoje, enxergo que eu fui muito dura comigo mesma. Sempre me coloquei em uma régua muito exigente. Quando criança, não gostava do meu sorriso, das minhas roupas, do meu cabelo extremamente liso. Na adolescência, não gostava das curvas que meu corpo tinha, do formato dos meus seios, do meu fluxo menstrual, da minha sobrancelha, dos meus pêlos, dos meus dentes ligeiramente separados.

Vendo fotos antigas, hoje avalio, com meu olhar mais carinhoso comigo mesma, que sempre fui de tantas formas especial, e demorei muito para reconhecer isso. Até meus supostos defeitos são especiais. Não mudaria nada, pois tudo serviu de alicerce para o que sou hoje.

No fim, fiz as pazes com minha criança. Hoje, só me restam boas lembranças e gratidão pelo que sempre fui.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

postagem breve 2.

Você já reparou na beleza do seu cotidiano? Aquela beleza que fica nas entrelinhas, omitida pelas tarefas enfadonhas, repetitivas e pouco prazerosas? Percebo que dia após dias minha vida está sendo consumida por cotidiano... Se eu não tirar dele a beleza das entrelinhas, certamente serei infeliz.

reclamando da vida?

Dias atrás, estava eu checando o e-mail da minha turma quando vi uma mensagem deixada por um colega. Nela havia o link de um vídeo do youtube, junto de uma breve recomendação de que todos deveríamos ver esse vídeo ao menos uma vez na vida. Curiosa como sou, cliquei e me maravilhei com o que vi. O vídeo era sobre a história de um homem que nasceu sem braços e sem pernas. Mostrava a trajetória dele e como ele fez para superar as adversidades - que certamente não foram poucas - e se tornar uma pessoa feliz. No vídeo, há trechos de uma palestra que ele dá a jovens em escolas, mostrando que não vale a pena você reclamar dos seus obstáculos, quando você tem infinitas possibilidades de ultrapassá-los, basta ser criativo. Pois bem. Precisei lembrar desse vídeo nessa noite. Reclamamos demais das coisas. Muitas vezes, nossa obsessão por observar em quais pontos aquilo pode dar errado nos impossibilita de curtir a maravilha que é quando dá certo. E temos medo de tentar, pois não queremos errar nu...

Fim de mais um semestre...

Semestre acabando e mais uma vez vem a sensação de tarefa cumprida... ou não? hehehe É um dilema, sabe? Pois por mais que estudemos, assistamos aulas e mais aulas e arranquemos nossos preciosos fios de cabelos (no meu caso, semi-loiros)em véspera de provas, sempre fica aquela impressão de que poderia ter sido melhor e de que poderíamos ter estudado mais, ou aproveitado tudo aquilo de outra forma. Fica também outra sensação muito interessante: a de que fizemos tempestade em copo d´água. Nos preocupamos demais com coisas que, no fim, dão certo, mesmo que algumas vezes não entendamos como...xD Infecto, por exemplo, nem foi tão ruim assim... Que é puxado pra caramba, disso ninguém duvida! E que prova é f... (piiiii), isso também é um fato! Mas dá certo, sabe? Tudo dá certo no fim, principalmente se você fica com um professor muito limpeza na prova prática (thanks, God! \o/). Geriatria... Bem, geriatria é o tipo de módulo no qual você pensa: "tenho a sensação de que eu já sabia disso.....